segunda-feira

Coincidência


Olha-la, da janela. Tipo Fanny Ardant, esguia, pernas bem roladas, tesas, e ri ali na esquina. Perde o pé, retoma o cimento rasgado a fios, junta os joelhos, o pé já fugindo de novo, e ri.
É nova na rua, não sabes se é uma primeira vez, claramente uma primeira semana. Está exageradamente sedada e ri, é um riso que atiça. Pára um Honda Civic metalizado, ela entra e o carro desaparece da janela. Fechas o estore.
Já alto o sol, café a olhar o mar, jornal aberto, surpreende-la que emerge na areia desgrenhada, sapatos de salto na mão.
Já não periclita em pés de agulha como ainda há pouco. Entre os rochedos, firme, não pressente os olhos que lhe escoltam as pernas rijas, os músculos tesos que escalam o paredão. Limpa a areia das pernas, sacode o cabelo, ajeita o rosto poeirento e põe os sapatos sem se sentar. Ainda a vês que atravessa a avenida e ajeita o vestido. Pagas o café. Queres cruzar-te com ela, queres vê-la de perto, vê-la quando acorda.
- Duas de vinte - ouves, ainda mal te abeiras do passeio. Tem o cabelo castanho farto, o vestido aberto nas costas e sob a pele macia todos os músculos estimulantes da atenção.
É quase meio dia. Depois o Audi arranca lentamente e vira à direita.

Sem comentários:

Enviar um comentário