sábado

O vidro


- Vamos lá a acordar, nina. Chega de boa vida.
A nina estremunhada baloiça a cabeça, depois arrasta as mãos pelos olhos.
- Mas ... não é suposto acordarem-me.
- Nem ai nem ui - irritou-se o anão - toca a levantar, saiu-nos uma galdéria. Estamos nisto há ano e meio e nem príncipe nem sopa de ervilha seca.
- ... perceba menina - disse outro anão - cama e roupa lavada, o soro, a mudança do penso, os cateteres, a algália...
- ... e a porcaria do vidro, sempre sujo - disse o segundo anão.
- ... sem vocês eu não seria mais do que um músculo coagulado num alforge.
- Ficava-nos mais em conta! - vociferou o quarto anão.
- Está bem, já percebi, acende um cigarro nervoso, eu saio de dentro do vidro... vou-me com os animaizinhos e o passaredo.
- Olha! Não é o príncipe quem vem ali? - exclamou o quinto anão
- Oh, logo agora que acendi um cigarro.
- Tratem de meter a Branca de Neve dentro do vidro, rápido gente!
- Apaga o cigarro! – ordenou-lhe o primeiro anão.
- Sujaram o vidro. – lastimou o segundo anão.

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