A parte superior do formulário pedia dados básicos. Depois vinham os dados relativos ao acontecimento: altura do homem, aspecto, sinais, rua, hora, arma, etc. A nada soube responder com concisa precisão. Sequer sabia se o homem tinha barba.
Eram sete e trinta da manhã. A travessa do C. é uma pequena rua metida entre um tapume, à direita, suspenso dos cartazes sempre novos que ali se amontoam, e, à esquerda, o deserto que àquela hora era o centro comercial onde começava a cidade. Dona Eulália avança, travessa abaixo, carteira ao ombro, picotando os quadrados visíveis de granito. Vai Dona Eulália pela calçada, vai disforme e não segura, quando de lado algum, eis como de bosques o fero, o meliante lhe salta a caminho e na mão o gume do aço que luzia.
– Tudo para cá, não quero fazer mal!
Dona Eulália tinha cinco euros. Era nada.
- … esse colar de ouro.
– O colar não, por favor, deu-me a mãe que tenho morta, vai de dizer-lhe a Eulália. Era um colar de ouro com uma cruz modesta mas cravejada, no género prenda de baptizado.
- Preferes morrer a dar-me um fio, mulher?
- O colar não, por favor …
Doeu tirar-lho, cortei-a, foi na mão e acho que no braço, quando a pauta tentou agarrar-me. Por causa de um fio, a filha da pauta. Como é que um gajo vai adivinhar, sim, como? Atestei-lhe com a cruz na testa até sangrar, quando a afastei era autêntica a tatuagem.
- É por isto que queres morrer, por cinco doses? – gritei-lhe. Mas ela já não ouvia. Deixei-a, não gosto de matar.
- Dona Eulália …
- Dona Eulália? Temos de lhe fazer uma análise ao sangue, importa-se de vir connosco?
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