sábado

O Chapéu do Sr. T.

O Sr. T. tinha outros nomes debaixo do chapéu, talvez tantos como as manchas acastanhadas que agora teimavam em pintar-lhe o alto da testa, talvez mais - por isso se apresentava sempre como o Sr. T., como se apenas dissesse: ele.
De uma vez, inclusive, o Sr. T. tratara de aprender com um ventríloquo a colocar a voz no chapéu o que, chegou a acreditar, facilitaria as coisas. Quem no mundo podia dar importância a um chapéu que se referia ao seu possuidor como se tratando do Sr. T.? Infelizmente, como o Sr. T. rapidamente iria constatar, demasiada gente. Um chapéu falante, concluiria o Sr. T., só nos protege na medida em que fizer de nós um centro de redobradas atenções.
Por um momento desiludido consigo mesmo, logo o Sr. T. recobraria o ânimo recolocando a voz onde era devida. O truque, concluiria após alguns dias, era os lábios referirem o centro vazio do chapéu e não o inverso. Deste modo, assim mantivesse o chapéu sobre a cabeça, nunca ninguém se aperceberia de nada, nem mesmo ele próprio, o que o deixava muito feliz. Tão feliz quanto um chapéu podia ser.

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