pequenas histórias de um pequeno símio que nasceu sem querer e que sem que também o queira irá um dia morrer
terça-feira
O avô
Vira o neto pôr sorrateiramente meia garrafa de branco debaixo da mesa. A mãe estava animada e o neto escondera o vinho debaixo da mesa, no gesto absurdo de quem não sabe mais.
– Acabou-se o vinho? A mãe estava num alegre negro que ele reconhecia e que a qualquer momento podia resvalar. O cunhado chega-lhe uma cerveja, enquanto abre outra para si.
– Não queres esconder esta, pois não papá?, diz ela. O avô sorri um sorriso difícil, que não quer dizer sim nem não.
- Maria Cristina! pede a avó.
A mãe está doente de infelicidade, médicos e mãos de comprimidos por dia. De cerveja, depois das seis. De amigos.
- Oh a garrafa, afinal sempre aqui esteve, diz ela em falsete enquanto levanta as faldas da toalha. Depois atira os braços à volta do avô, dá-lhe um beijo como uma filha obediente e festeja-lhe levemente o queixo. Todos chalaceiam, alguns batem palmas, o riso é contagiante. Só o avô vê que o neto não sorri.
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