pequenas histórias de um pequeno símio que nasceu sem querer e que sem que também o queira irá um dia morrer
quarta-feira
Semelhança.
- Eu NÃO SOU o meu pai!
- Não é normal, Álvaro, reagires assim quando se fala do teu pai, tens quarenta anos, porra. Ainda não mataste o teu pai?
- Simplesmente não sabes do que falas. Eu NÃO SOU o meu pai, de todo, de todo. Que sabes tu dele? Se eu fosse o meu pai eles não eram o que são!
- Álvaro…
- … é sempre isto, sempre que intervenho na educação dos meus filhos, porra, lá sou o meu PAI…
O pai de Álvaro fora um Ogre temível que calmamente se transfigurara na prudência amante e frágil de um avô de que os netos idolatravam o passado guerreiro. Álvaro não tinha um passado que pudesse exibir. Nem aí semelhava a seu pai e a sua espada da farda número um. O seu passado era pouco diferente do seu presente e, naquilo em que a diferença se impunha, nada havia de contável.
- Álvaro…
- Deixa, não quero discutir.
Foi a passo lento que se dirigiu ao escritório e fechou a porta.
Lá dentro, tirou a espada da farda número um da bainha. O sangue correu dos pulsos enquanto ao espelho, lâmina em riste, compunha a última imagem.
Não, definitivamente, não era o seu pai.
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