pequenas histórias de um pequeno símio que nasceu sem querer e que sem que também o queira irá um dia morrer
terça-feira
A mulher bonita e infeliz
Era uma mulher bonita e infeliz. O marido adoecera, tinha ela cerca de trinta anos. A sua inquieta sensibilidade, o marido estava longe de a prever. Amava-a, talvez por hábito, porque acolhesse de novo o amor como se recebe um velho amigo. Mas perdera demasiado tempo. Um tempo que a ela coubera recolher como rosas no colo de um vestido que ameaçava puir. Nunca, em momento algum, ela decidiu traí-lo. A questão nem se pusera, traí-lo em quê, exactamente? Ele era o velho amigo a quem não podemos contar quanto mudamos, mas era o seu velho amigo de sempre. Que lhe iria ela contar? Como mudara?
A mulher bonita e infeliz aproxima-se-lhe e agarra-se-lhe de leve ao pescoço.
- Vou-me deitar.
O velho amigo corresponde e recosta-se melhor no velho sofá.
Vemo-lo abrir o frigorífico e tirar uma cerveja, pôr futebol no ecrã. Podemos sentar-nos. O jogo está mau. Podemos vê-lo ir outra vez à cozinha. Abrir outra cerveja.
- Ela trai-me - diz o velho amigo.
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