- Tirei-o com a mão. Tomei a pastilha e tudo se precipitou, como um cacho de uvas de células. Tive que mergulhar a mão no sangue e puxá-lo, já era um bonequinho, percebes, um boneco morto, azul e vermelho, uma morte suja. Tive que meter a mão, Max, como quem desenraíza uma planta perfeita.
- Não era uma pessoa, Eva.
- Então era o quê Max?
- Uma parte de ti que estava doente, que houve que erradicar. Foste sujeita a uma pequena cirurgia, é como se te tivessem tirado um quisto.
- Um quisto, Max? Um quisto? Como podes dizer isso?
- Não sobreviria, Eva. Nem ele, nem tu, não assim.
- E achas que eu sobrevivi? Eu queria-o.
- Estou apenas a dizer que ele não era uma hipótese. Não era ou tu ou ele, mas ou tu ou nada, percebes isto?
- Não. Nunca perceberei. Nunca perceberei o porquê da depressão, dos médicos, dos comprimidos, porque os deixei intrometerem-se entre mim e… ele. Mataram-mo. Mataram-me. E nunca te perceberei, Max, como podes tu permanecer tão ponderado, quando… Era tão mais simples se a dor fosse tua, fosse tua a culpa, tua…
- Culpa, Eva? Não há culpa. Ninguém pode ter culpa...
- Sim, a tua culpa. Porque no fim é da tua culpa que eu sou culpada. Ela veio antes de mim, a tua culpa. Mas fui eu que o arranquei com as mãos, onde estavas Max, quando o arranquei com estas mãos?
- Eva…
- Odeio-te! Sai. Sai.
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