sexta-feira

Amor à primeira vista


- Pum!
- Queres dizer? - Não quero dizer. - Não queres dizer? - Não. Dás-me um cigarro? Apalpo os bolsos. – Toma, estico cortesmente o maço. Ela puxa como se puxasse um dedo muito, muito fino. Sorri por debaixo dos olhos negros, depois volta a fazer Pum. O cigarro já na boca, os olhos um pouco já para cima, estende-me vinte cêntimos. Recuso. Faço, espantado, um barulho estranho com a garganta, ela percebe e diz obrigado. Sabe lá ela, penso. Era daquelas mulheres que não te importunaria puxar para fora da rebentação, secar e levar para casa, fodê-la. - Não, filhota, não estás obrigada, é só um cigarro, digo. Ela dá um jeito ao cabelo e volta a fazer Pum. - És bonita Pum, digo. Ela sorri. - És recente aqui em Torres aLx, Pum. - Pum, disse ela aspirando o cigarro como se o usasse para respirar. - Dás-me um cigarro? repetiu. - Amanhã já não terás os vinte cêntimos, Pum. - Daqui a uma semana … não gosto de desperdício, Pum. Ela olhou-me o anel e fez contas de cabeça. – Pum, sorriu Pum erguendo os olhos. Era aloirada, o cabelo ainda lustroso, uns olhos negros enormes e um dedo espetado a dizer Pum. Sem qualquer recuo, a coronha marcara-me. Descemos a rampinha, comprei cervejas no minimercado e deixei-me ficar a observar o discurso dos corpos enquanto ela desaparecia no meio deles. Passados não eram dez minutos, Pum reaparecia, os olhos muito negros e desembaraçados, trazia presentes para a nova casa.

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