Um gajo tem de ganhar a vida. Há para aí uma quantidade enorme de gente que não tem nada para fazer. Fica em casa e por melhor que seja, ninguém lhe dá trabalho. Há gente a mais, é o que é. Já se foi o tempo em que podíamos escolher. Mesmo quando isso tinha o seu preço. Mas, quando muito, as actrizes levavam na pita, dizia-se. Depois, lá vinham uns papéis decentes. Agora, só nos sai disto. O que explica porque andei num enredo… como chamá-lo!? A ideia, pelo menos de princípio, era fazer um filme de amor. Mas todo o amor ali era o meu.
Talvez não devesse dizer nada, talvez devesse deixar a cena a seco. Acontece que o que acabou por se passar é tão inusual que podíamos não estar preparados para reparar. Não acontece todos os dias. Dificilmente, alguém diria que o orgulho é a solução. Mas, naquela ocasião, foi o que se passou.
A cena, como se tornava evidente, não estava a resultar.
- Cavalga! disse o realizador irritado, Cavalga! Porra! Cavalga!
A intenção do realizador era mostrar o contraste entre a beleza e a impaciência da jovem e o ar frio do namorado, acentuar um possível lado cómico da relação entre os dois. Um interessado, ela, o outro, em absoluto, desinteressado. Um fruindo, ele, o ambiente permissivo da noite madrilena, o outro, ela, com alguma dificuldade em encontrar um rumo para a coca e para os copos que já ingerira.
Ao ouvir aquilo, ela parou. Saiu de cima do jovem, pôs-se de joelhos na cama, e virou-se para o realizador.
- Foda-se, Júlio, já viste a cara deste filho da puta!? Gotas de suor rolavam-lhe pelo corpo moreno e demasiado bronzeado. - Tu - virando-se para a assistente - o que estás à espera!? Não vês que preciso da toalha!?
Júlio levantou-se. - Acendam a merda das luzes! E tu, Francisca, deixa-te de merdas! É preciso mais!
- Merdas, Júlio!? Isto não é indiferença! Isto é de sonso! Não posso fazer mais com este sonso por baixo de mim!
A tensão crescia quando a assistente levou a toalha a Francisca. Francisca sentara-se na borda da cama. Começou a limpar-se com um ar fulo. Atrás de si, o actor abrira finalmente os olhos. Parecia divertido. Sorrindo, sentou-se ao lado dela e deu-lhe um toque com o cotovelo.
- Desculpa lá!
- Posso saber que merda se passa, Ernesto!? Perguntou Júlio ao pressentir o gesto.
- Queres mesmo ouvir!?
- Despacha-te!
- É rápido! Eu não aguento, é tão simples como isto!
- Não aguentas o quê!?, Júlio estava vermelho, as sobrancelhas cravadas como setas. És a porra de um anjinho do coro agora? Que nova maluquice vem a ser esta!?
- A minha cara, o meu ar, sei lá! Na verdade não sei como fico!
- Quando Francisca abana os seios em cima de mim, para aguentar, fecho os olhos, saio da cama, desço para o metro, é hora de ponta, dou um soluço com a multidão, entro, e, apertado, de braço no ar segurando a correia, sorrio; olho à minha volta e estou orgulhoso de ter comigo aquela nívea imagem.
Júlio reflectiu por momentos; depois perguntou-lhe: actor’s studio!?
- Actor’s studio!, assentiu Ernesto. Nesse instante, Francisca resolve intervir.
- Olha Ernesto, é mesmo assim, Ernesto, ficas orgulhoso!?
- É mesmo assim, Francisca.
- Tens orgulho!?
- Tenho!
Francisca sorri. - Então, não tem mal!
Júlio berra.
- Apaguem as luzes! Toca a voltar às filmagens!
(FM)
Talvez não devesse dizer nada, talvez devesse deixar a cena a seco. Acontece que o que acabou por se passar é tão inusual que podíamos não estar preparados para reparar. Não acontece todos os dias. Dificilmente, alguém diria que o orgulho é a solução. Mas, naquela ocasião, foi o que se passou.
A cena, como se tornava evidente, não estava a resultar.
- Cavalga! disse o realizador irritado, Cavalga! Porra! Cavalga!
A intenção do realizador era mostrar o contraste entre a beleza e a impaciência da jovem e o ar frio do namorado, acentuar um possível lado cómico da relação entre os dois. Um interessado, ela, o outro, em absoluto, desinteressado. Um fruindo, ele, o ambiente permissivo da noite madrilena, o outro, ela, com alguma dificuldade em encontrar um rumo para a coca e para os copos que já ingerira.
Ao ouvir aquilo, ela parou. Saiu de cima do jovem, pôs-se de joelhos na cama, e virou-se para o realizador.
- Foda-se, Júlio, já viste a cara deste filho da puta!? Gotas de suor rolavam-lhe pelo corpo moreno e demasiado bronzeado. - Tu - virando-se para a assistente - o que estás à espera!? Não vês que preciso da toalha!?
Júlio levantou-se. - Acendam a merda das luzes! E tu, Francisca, deixa-te de merdas! É preciso mais!
- Merdas, Júlio!? Isto não é indiferença! Isto é de sonso! Não posso fazer mais com este sonso por baixo de mim!
A tensão crescia quando a assistente levou a toalha a Francisca. Francisca sentara-se na borda da cama. Começou a limpar-se com um ar fulo. Atrás de si, o actor abrira finalmente os olhos. Parecia divertido. Sorrindo, sentou-se ao lado dela e deu-lhe um toque com o cotovelo.
- Desculpa lá!
- Posso saber que merda se passa, Ernesto!? Perguntou Júlio ao pressentir o gesto.
- Queres mesmo ouvir!?
- Despacha-te!
- É rápido! Eu não aguento, é tão simples como isto!
- Não aguentas o quê!?, Júlio estava vermelho, as sobrancelhas cravadas como setas. És a porra de um anjinho do coro agora? Que nova maluquice vem a ser esta!?
- A minha cara, o meu ar, sei lá! Na verdade não sei como fico!
- Quando Francisca abana os seios em cima de mim, para aguentar, fecho os olhos, saio da cama, desço para o metro, é hora de ponta, dou um soluço com a multidão, entro, e, apertado, de braço no ar segurando a correia, sorrio; olho à minha volta e estou orgulhoso de ter comigo aquela nívea imagem.
Júlio reflectiu por momentos; depois perguntou-lhe: actor’s studio!?
- Actor’s studio!, assentiu Ernesto. Nesse instante, Francisca resolve intervir.
- Olha Ernesto, é mesmo assim, Ernesto, ficas orgulhoso!?
- É mesmo assim, Francisca.
- Tens orgulho!?
- Tenho!
Francisca sorri. - Então, não tem mal!
Júlio berra.
- Apaguem as luzes! Toca a voltar às filmagens!
(FM)